Compartilhando Conhecimentos

Este blog tem por objetivo, compartilhar a minha jornada na Uneb principalmente no que diz respeito à disciplina de Prática Pedagógica I.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Um diálogo Entre a Obra: “A hora da Estrela” e a Questão da Existência Humana

Estamos nós sempre ocupados em cumprir o nosso dever diário de ser filha, irmã, colega de faculdade, parente, amiga, que não percebemos que com a correria e as obrigações do dia- a-dia, dificilmente nos perguntamos quem somos ou o que queremos da vida e para a nossa vida.
Ouvi dizer em algum lugar que a noção de existência está associado à presença do outro. É preciso estar ligado a alguém, fazer arte de uma família, uma rede de amigos e colegas de trabalho, enfim qualifica-se o homem pelas suas relações sociais.
A sociedade, a cultura, a política, não sei bem, mas alguém criou um modelo de vida na qual diz, que para o homem ser feliz, ele tem que estar em dia com os pré-requisitos comuns, tradicionais e conservadores. Como ter uma família, uma profissão, ter amigos, religião, casa própria, plano de saúde... Desenharam um modelo único para pessoas diferentes, no qual quem não se adéqua ao modelo vigente,  acredita mesmo não é feliz. Criaram também um conceito de felicidade?
Implantaram no seio da sociedade valores e regras não respeitam a individualidade e especificidades de cada um.
Quem dera que os direitos ao acesso à escola, à boa alimentação, à saúde e a casa própria fossem iguais e obrigatórios a todos.
Só agora eu entendo “Macabéa - personagem de um livro de Clarice Lispector”, ela não se questionava por que sabia que não havia respostas, impulseram-na um modelo de vida e ela o seguiu como todos nós o seguimos.
Não importa quem disse, mas disseram que o trabalho dignifica o homem, então ela trabalhava, era datilografa, possuía um status social, mesmo que com a remuneração que recebia não desse nem para comer.
Ensinaram-na a agradecer, a se desculpar, a respeitar, a aceitar as dificuldades e acima de tudo a aceitar o seu lugar e as coisas como elas são. Deixando de claro que não se deve fazer nada para tentar mudar ou transformar a sua condição social. Tem-se que aceitar e respeitar aqueles que tiveram a sorte de já possuírem as coisas.
Esse tipo de pensamento nos leva a uma lógica de predestinação, é como em uma das características do Naturalismo, onde o homem nunca evolui. Se por acaso ele nascer pobre ele vai morrer pobre.
Embora a obra “A Hora da Estrela” seja um romance Modernista ao invés de Naturalista, ele é escrito relatando a realidade nua e crua da personagem protagonista,  relatando seus encontros e desencontros com a  vida.
 Esta obra foi escrita por uma mulher que não se contenta com o pouco, não se comove com o natural ou com o comum, mesmo descrevendo a vida, ou melhor, a subvida de sua personagem, Clarice revela-lhe a vida dando lhe um sopro de explendorosidade na rotina daquela pobre moça, dando a ela um momento sublime, que é a descoberta da vida, da sua existência na terra.
 Ensina-nos a lição de que não seja tarde para descobrirmos nós o valor da vida e que mesmo sem saber o porquê ou para que fomos  escolhidos para nascer, nós possamos vivê-la intensamente, mas com o único propósito de ser feliz, ser feliz a nosso modo e não como outrem impõe que sejamos.
Clarice não escreveu as aventuras de uma nordestina da cidade grande, ela escreveu as aventuras de cada um, na luta e na busca de desvendar quem é. Ela propõe que façamos um questionamento sobre nós mesmos, mas que no fundo abrange uma duvida universal.
Se fossemos considerar a época em que a obra foi produzida, as relações que a escritora estabelece com o seu meio social e intelectual, a sua obra é resultado da soma de todas as relações diretas e indiretas da autora, lembrando que uma obra ao ser produzida, no inconsciente de seu escritor, ela já idealiza o seu futuro leitor. E por isso ao possuir um questionamento universal, sua lírica e sua mensagem ultrapassam as gerações.

Taís Fernandes

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